JOTABÊ MEDEIROS
»Alemão funde HQ, cinema e TV na Internet«



Na linguagem semiótica, diríamos que eleinventou novos signos. O alemão HartmutZänder, psicólogo, filósofo e artistaplástico, fundiu os quadrinhos com o cinema, atelevisão e a Internet e o resultado - quechama de Orbis Televisionis Pictus - écertamente uma experiência inovadora.

Orbis Televisionis Pictus já foi mostradoem galerias e museus das principais cidadesalemãs e esteve em exibição no Centro Belga deQuadrinhos, em Bruxelas. No mês passado,Zänder esteve no Brasil para participarBienal Internacional de Quadrinhos, em BeloHorizonte.

O trabalho de Zänder é simples: ele criaséries de imagens em "movimento" (partindo defilmes muito conhecidos), todas aprisionadasem pequenas telas estilizadas. Essas imagens -ele tem desde uma versão de O Exterminador doFuturo 2 até uma releitura de Olympia, de LeniRiefenstahl - tanto podem servir para umaleitura convencional como estão disponíveispara apropriação no site do artista. Sãosignos independentes.

É interessante notar que Zänder não fazdistinção entre cultura de massa e de elite.Em um de seus trabalhos, TV-Manga, ele pega osfilmes japoneses de Ozu, Kurosawa, Oshima eSuzuki e os mistura com uma avalanche trash datelevisão japonesa, de comerciais kitsch alutas de sumô.

Ele ilustra sua idéia com uma citação dofilme Down by Law, de Jim Jarmusch. Há ummomento no filme em que o personagem deRoberto Begnini tem problemas para dizer, eminglês, "ver pela janela". Ele acaba dizendosempre: "ver a janela", no que é corrigidopelo personagem de John Lurie.

"Trata-se de ajudar a estabelecer adistinção entre o que é virtualidade e o que érealidade, de usar imagens muito batidas erecolocá-las em circulação com outrapossibilidade", disse Zänder. Atualmente, eleprepara o site A Bela e a Fera, no qual vaiusar filmes de Murnau, Cocteau, Renoir, vanNuytten e Rivette para criar "um breveinventário do tratamento histórico que oseuropeus dão à idéia de `selvagem' e `nudez'".

Acessado pela Internet, o trabalho deZänder também provoca polêmica. Sua versão dofilme Olympia, de Leni Riefenstahl, propõefazer uma "pesquisa visual" de expressõesfísicas usadas em anúncios e comerciais,utilizando para isso 47 "desenhos-chave" dosfilmes da cineasta oficial do nazismo -atualmente praticante de mergulho, militantedo Greenpeace e vivendo na cidadezinha de Poecking.

11.11.1997 O Estado de S. Paulo


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